Os desafios das mulheres na área tecnológica

A desigualdade salarial, a falta de incentivo e a discriminação de gênero são alguns dos desafios enfrentados pelo público feminino no setor da tecnologia.

por Raissa Cavalcante

A área tecnológica tem sido majoritariamente ocupada por homens, o que reflete normas sociais e estruturas institucionais que historicamente marginalizaram as mulheres nesse campo. Contudo à medida que o tempo avança, torna-se evidente que elas conquistam uma crescente visibilidade e protagonismo nesse setor, uma vez que desafiam estereótipos e superam barreiras históricas. 

Segundo pesquisa divulgada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), nos últimos cinco anos (2015-2022), o setor de tecnologia registrou um aumento significativo de 60% na participação feminina. Porém, ainda é preciso diversas melhorias para crescer o índice das mulheres mesmo com esse avanço, o panorama geral ainda reflete desigualdades significativas. Atualmente, de acordo com dados apurados pela CNN, homens dominam 83,3% do mercado, enquanto mulheres ocupam apenas 12,3% dos cargos relacionados à tecnologia. Esses números destacam a persistência de barreiras que precisam ser enfrentadas para alcançar uma verdadeira equidade de gênero nesta área. 

Simone dos Santos, professora doutora de Engenharia Mecânica. Foto: SIGAA.

Simone dos Santos, professora doutora de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Piauí (UFPI), discorre acerca dos desafios enfrentados por atuar na área da tecnologia. “Houve muito machismo pelos docentes e alunos, e muita especulação sobre minha vida sexual, boatos sobre casos com professores e professoras. Foi algo bem pesado. Para conseguir o respeito que tenho hoje, tive que trabalhar muito, umas cinco vezes a mais do que qualquer um. Hoje em dia acho que já consigo, mas antes não conseguia ter esse respeito, mesmo trabalhando, fazendo várias coisas e sendo doutora”, diz. 

As diferenças salariais são alguns dos empecilhos encontrados na entrada do público feminino tanto no universo tecnológico quanto fora. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a diferença de salários entre homens e mulheres atingiu 22% no final de 2022. Esses dados evidenciam a desvalorização do trabalho da mulher, porque existem casos em que ambos os sexos desempenham a mesma função, mas o homem recebe uma remuneração superior. 

Cristiane Portela, professora doutora da matéria de Redação para Webjornalismo. Foto: Arquivo pessoal.

Outro obstáculo é a ausência de estímulos para promover o crescimento da representação feminina no campo da tecnologia. Cristiane Portela, professora doutora da matéria de Redação de Webjornalismo da UFPI, fala sobre algumas estratégias para promover a inclusão das mulheres nesse setor. “Acredito que, assim como em outras áreas, as mulheres também já estão conseguindo atingir um patamar de inclusão na área tecnológica. Ainda não exatamente igual ao patamar dos homens, mas que já abrange grandes conquistas, como o fato de ocuparem cargos de chefias em empresas de tecnologia. Ainda há desafios a serem vencidos, como a desigualdade salarial”, afirma. 

“Essas barreiras podem ser superadas, por exemplo, quando a inclusão tecnológica para as mulheres ocorrer desde cedo, ainda nas escolas; ou também quando as empresas da área focarem em programas de qualificação tecnológica direcionados a elas”, complementa Cristiane. 

A discriminação de gênero e a falta de respeito também são fatores que contribuem para a desigualdade de gênero. O uso de comentários preconceituosos e de comportamentos inadequados no ambiente de trabalho, como o assédio sexual, fazem com que as mulheres se sintam desvalorizadas, desrespeitadas e desencorajadas a buscar oportunidades de avanço profissional. Além disso, existe a autocobrança excessiva desse público devido às pressões externas, para corresponder a expectativas sociais e profissionais, o que gera uma sobrecarga emocional. 

É importante promover iniciativas que estimulem às futuras mulheres a optarem por carreiras na área tecnológica, pois isso não apenas quebra estereótipos, mas também impulsiona a equidade no meio acadêmico e profissional. O projeto de extensão, do curso de Engenharia Civil, da UFPI “Mulheres na Engenharia: o Despertar começa na escola”, busca levar princípios da engenharia até a escola, incluindo conceitos de matemática, de física e de química que elas podem não ter visto ou não se interessaram anteriormente. A partir desse pensamento, a abordagem com experimentos laboratoriais e situações do cotidiano vai ser muito importante para estimular a identificação das garotas com essas áreas. 

Maria Eduarda Brandão, estudante de Engenharia Civil, no evento “Semana de Engenharia Civil”. Foto: Arquivo pessoal.

Maria Eduarda Brandão, aluna de Engenharia Civil, fala sobre a importância dessa iniciativa. “Acredito que apoio em todas as áreas da vida é muito importante. Às vezes você pode duvidar da sua própria capacidade, ainda mais quando você nem faz ideia do quão capaz você é. E isso é muito comum quando você é mais jovem. Eu sempre tive muito apoio da minha família, amigos, professores e reconheço a importância disso em muitas das minhas decisões, inclusive na escolha do meu curso”, diz. 

“Agora, tendo a oportunidade de incentivar e fazer as meninas acreditarem em si, se entusiasmarem ou pelo menos pensarem nessa área da tecnologia, ainda predominantemente masculina, me deixa muito animada. Quem sabe, no futuro, a partir dessa iniciativa, algumas delas se tornarão minhas colegas de trabalho? Por isso, creio que essa será uma experiência muito gratificante para todas as envolvidas”, conclui Maria Eduarda. 

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