Funk: a popularização do gênero musical como porta-voz da comunidade periférica brasileira

Nascido nas favelas, o ritmo se expande cada vez mais rumo ao reconhecimento internacional

Por: João Santana

O funk, consolidado no repertório cultural e social do Brasil, assumiu um papel importante na transmissão da voz de uma comunidade marginalizada, as favelas. Contudo, o gênero musical teve uma trajetória envolta de estigma e preconceito antes de atingir o patamar internacional que possui na atualidade. 

O funk brasileiro nasceu nas comunidades periféricas do Rio de Janeiro (RJ) e foi popularizado através de bailes orquestrados por DJ’s nas áreas nobres da cidade. O gênero teve como influência alguns ritmos estadunidenses em voga na década de 1970 e com o passar dos anos alcançou um público cada vez maior.

Entre os anos 1980 e 2000, o contexto em que o novo ritmo nacional se inseria ultrapassava a simples questão de entreter e trazia temas nas letras das músicas que refletiam a vivência da população suburbana, como pobreza, violência e festas. Dessa forma, assumia o encargo de ampliar questões sociais que envolvem as comunidades periféricas do país. 

Nesse mesmo período, por volta da década de 1990, o Brasil recebeu mais uma influência da música estadunidense, o Miami Bass. Marcado por uma mistura de sons eletrônicos, o ritmo nasceu nos bairros negros de Miami e logo se uniu soul que marcava a sonoridade mesclada do funk nos bailes cariocas.

Somente nas últimas décadas que o ritmo se tornou popular no mercado fonográfico internacional, com o impulso de parcerias entre artistas de outros países e brasileiros. Dentre eles, o grande destaque está em Anitta, cantora carioca que se propôs a alavancar o alcance do gênero brasileiro em países do exterior e obteve sucesso, com inúmeras parcerias de renome e um álbum de funk cantado em inglês, espanhol e português.

Anitta em show da turnê ‘Baile Funk Experience’/Foto: Reprodução

Em entrevista ao Portal Jovem Pan, Anitta reforçou o preconceito que o ritmo sofre no Brasil, destacando o papel fundamental na mudança da visão negativa que as favelas têm no país.

“O funk faz parte da cultura dos moradores das favelas brasileiras, de onde venho. Já foi julgado como sem valor e até associado ao crime organizado. Um reflexo do preconceito de classe e do racismo que assombram nossa sociedade”, destaca.

MC Soffia durante apresentação/Foto: Reprodução

MC Soffia, rapper, cantora e compositora, também ressalta a importância da visibilidade que o gênero traz às comunidades.

“Esse gênero está no campo de visão do entretenimento trazendo respeito, dignidade e oportunidades. O Brasil está conhecendo a periferia, a partir do olhar dos artistas que vivem neste território e isso é muito importante”, afirma. 

No mês de abril,  Anitta lançou o ‘Funk Generation’, seu sexto álbum de estúdio, que tem a premissa de levar o funk brasileiro para o exterior. Contendo quinze faixas, o projeto foi recebido nas mídias internacionais de maneira positiva e possui uma turnê mundial que promete levar a experiência dos bailes funk ao público internacional, marcando assim mais um importante passo na exportação do gênero.

Baile funk no Rio de Janeiro (RJ)/Foto: Vincent Rosenblatt

No Brasil, o funk alcançou uma alta demanda popular, de forma a adotar particularidades sonoras em cada região, dando origem a diversos subgêneros. Alguns deles, como o brega-funk e o funk rave, possuem um considerável reconhecimento do público nacional. 

Criado em Pernambuco (PE) nos anos 1980, o brega-funk é composto pelas batidas frenéticas comuns do funk, mesclado a elementos do brega, muito popular no Norte e Nordeste do Brasil. Já no funk rave, e energia contagiante do ritmo se une a sons de música eletrônica e influências de 150 bpm, uma outra vertente do funk brasileiro. 

Dos primeiros bailes cariocas à exportação do funk, o gênero musical se torna cada vez mais necessário como forma de expressão e resistência de vozes marginalizadas, expressando a identidade cultural das favelas e se consolidando como uma expressão artística totalmente brasileira em expansão no globo. 

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