Podcasts ressignificam a forma de contar histórias e traçam novos rumos para o fazer jornalístico

No Piauí e em todo Brasil, pessoas se sentem acolhidas por histórias e debates trazidos à tona com a expansão dos podcasts

Por: Luís Eduardo Fontenele

“Tem algumas histórias que a gente está sempre contando e recontando, por alguma razão”, diz a jornalista Branca Vianna no início do episódio “Histórias sem fim”, publicado em abril de 2024, no podcast “Rádio Novelo apresenta”. Assim como as histórias contadas nesse episódio, muitas outras encontram espaço no dia-a-dia de milhares de brasileiros, através dessa mídia sonora. A diversidade de histórias contadas por diferentes pessoas e de modos distintos, desenvolve um significado pessoal para cada ouvinte, o que é cada vez mais raro, devido ao padrão comunicativo imposto na mídia tradicional.

Apresentado como um formato de mídia inovador, o podcast, em termos simples, é um material sonoro, semelhante à rádio, que está disponível na internet, para o ouvinte escutar onde, como e quando quer. Além disso, é um produto produzido por demanda, e depende da fidelidade dos seus consumidores para que permaneça sendo realizado. Hoje, ainda que muitos encontrem dificuldades relacionadas à distribuição ou hospedagem dos seus materiais, o engajamento e a fidelização do público não aparentam ser um problema para inúmeros podcasters, visto que cada vez mais pessoas escutam e se identificam com podcasts em todo o Brasil.

Foto: Freepik

Sob um olhar empresarial, o setor de economia criativa, no qual estão incluídas as produtoras de podcasts, representa, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Essa conjuntura fortalece os investimentos na área de podcasts, abrindo um leque de novas produtoras e criadores de conteúdo sonoro.

Com as possibilidades de expansão, o desenvolvimento desse formato de mídia pauta um novo olhar dentro do jornalismo, focado na pessoalidade e em fugir das vozes tradicionais que já contam as histórias noticiadas, há muito tempo e do mesmo modo. Os podcasts, ao mesmo tempo que representam inovação, resgatam algo que foi perdido ao passar dos anos com a rotina jornalística: o tempo de produção. Ainda assim, é importante mencionar que nem todo podcast se categoriza como produto jornalístico, mas o trabalho de pesquisa que muitos podcasters com grande alcance no Brasil vêm fazendo, é digno de lembrança, e encoraja muitos comunicadores a adentrarem nesse mundo e construírem seu público.

Um exemplo disso é a jornalista piauiense Aldenora Cavalcante, que através de uma amiga passou a consumir mais podcasts, e juntas, passaram a produzir o “Malamanhadas”, podcast que também se tornou produtora, e que tem como linha temática, histórias que se relacionam a questões de gênero e raça. Segundo Aldenora, que também pesquisa sobre esse formato midiático, os podcasts têm o poder de ampliar a voz de identidades silenciadas pela mídia massiva.

“O podcast tem esse caminho, diferente de outras mídias mais tradicionais, de você conseguir construir novas narrativas e novos olhares para temas que não estão sendo bem explorados, até porque você tem uma autonomia para produção, então a pessoa que não se vê representada na mídia pode fazer seu próprio podcast”, pontua.

Identidade visual – Malamanhadas/Divulgação

Com o avanço no segmento, estudantes de comunicação também se mostram cada vez mais adeptos à produção de podcasts. Miguel Vinicius Moura, estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), produziu seu primeiro podcast no final de 2023, e conta que sua visão sobre esse formato midiático mudou após o exercício da produção, entendendo a importância da internet, e por conseguinte dos podcasts, na representação dos ouvintes.

“É muito da natureza da internet, ela abriu espaços para que outras identidades e personagens apareçam de forma mais significativa do que a gente presenciava antigamente, na televisão e na rádio. O podcast, assim como outras ferramentas de mídia da internet, possibilita que pessoas de diferentes nichos tenham suas histórias contadas e valorizadas”, relata o estudante.

Segundo o Spotify plataforma de streaming onde podem ser encontrados os podcasts, as maiores tendências no ramo em 2023 foram: Videocasts, podcasts gravados também em formato de vídeo; a abordagem intimista, que busca maior conexão com o ouvinte; o uso da interatividade, através de ferramentas nas redes sociais; e os de histórias autênticas, com relatos verídicos de indivíduos comuns.

Essas tendências dialogam com o fato de que o público consumidor de conteúdo gradativamente vem procurando histórias com que possam se identificar, e não só receber informações de forma pouco interativa, como já ocorre a um longo período de tempo. Mesmo com desafios enfrentados durante sua construção, os podcasts estão posicionados atualmente como um instrumento midiático potente, com poder de ressignificar histórias, através de vozes que não ocupam o tradicional, e também por meio de uma nova forma de fazer jornalismo, preocupada em agregar identidades e tocar os ouvintes de forma efetiva.

Confira os podcast indicados por mim, e pelos nossos entrevistados:

  • Luís Eduardo Fontenele:
  • Aldenora Cavalcante:
  • Miguel Vinicius Moura:

Confira também o Podcast do Portal Luneta: Diário do Rio Parnaíba

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