Religião Piaga celebra Festa da Vida no interior do Piauí

Tradição neopagã mantém viva a busca pela ancestralidade piauiense.

Por: Danielle Simeão

A Vila Pagã, localizada no povoado Morada Nova, zona rural de José de Freitas, celebra no dia 17 de dezembro a Festa da Vida, rito para saudar as divindades da água e pedir chuva no Piauí. Atualmente, o espaço conta com mais de 10 hectares, sendo um complexo de preservação religiosa, natural e da cultura politeísta, principalmente da tradição Piaga.

Durante o rito, os membros piagas rezam e dançam ao redor do mastro, pedindo bênçãos dos deuses. Velas são acesas em homenagem às divindades das águas e após as orações, o rito é encerrado com um banquete de oferendas.

Membros piagas dançando ao redor do eixo / Danielle Simeão

Sâmara Vanessa, condutora da linha Ameríndia, diz que a celebração é uma de suas favoritas. “É um rito sempre muito alegre, eu adoro dançar ao redor do mastro, tocar meu maracá e hoje foi lindo. A gente honra o Folharal, que é uma entidade que eu também tenho uma conexão”.

Eulália Rodrigues, sacerdotisa condutora da linha Ibérica, afirma que é um período de renovação, agradecimento e de pedir chuva para as divindades: “É o momento de pedirmos que a chuva faça jorrar as águas no nosso planeta, para que o verde volte a brotar, para que haja mais fertilidade no nosso mundo”.

Banquete de oferendas às divindades das águas / Danielle Simeão

TRADIÇÃO PIAGA

Rafael Noleto, sacerdote e fundador do Círculo Piaga, explica que o paganismo Piaga se diferencia pelo seu aspecto multicultural. “Em outras tradições neopagãs, elas se limitam ao culto às divindades originárias de sua terra. Aqui no Piauí, além das originárias da nossa terra, nós também incorporamos o culto às divindades estrangeiras, que é caracterizado pela Corrente da Terra e Corrente Colona”.

Altar das divindades estrangeiras / Danielle Simeão

Ainda de acordo com Rafael, os oito festivais principais do Piaganismo seguem a tabela climatológica do Piauí, começando com a chegada das chuvas, depois o florescimento, a frutificação e finalizando com a temporada seca.

“Também temos celebrações menores, como a Neptunália, que é dedicado às águas, e a Robigália, dedicado ao Deus que afugenta as pragas das lavouras, Robigus. Como o Piauí é uma terra muito agrária, a gente lembra muito dessas divindades ligadas ao campo”, complementa.

Rafael Nolêto, jornalista e relações públicas, sacerdote e fundador do Círculo Piaga / Reprodução redes sociais

Rafael diz, ainda, que já chegou a sofrer preconceito por causa de sua religião. “Na minha caminhada já presenciei alguns comentários maldosos. Mas coisas assim que a gente releva através da difusão de informação. Mostrando o que realmente nós fazemos, no que nós acreditamos. Eu acho que essas são as melhores ferramentas pra combater a desinformação e o preconceito”, finaliza.

Vinicius Queiroz, massoterapeuta, foi pela primeira vez à Vila para conhecer o espaço, e afirma que o local é bem inclusivo e representa bem suas crenças individuais.

Vinicius Queiroz, massoterapeuta, visita Vila Pagã / Danielle Simeão

“Eu já sabia da Vila há muito tempo, mas hoje vim conhecer pessoalmente. Achei conectado com a realidade do Piauí. Foi bom. Gostei de conhecer o espaço e achei a condução do rito bem organizada. Achei aqui bem inclusivo, vi quase todo tipo de divindade. Me senti representado, por mais particulares que sejam minhas crenças, mas fui bem representado hoje”.

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