Conexões Afetivas: transformando a educação para crianças no espectro autista

Por Kamila Reis

O transtorno do espectro autista (TEA) abrange diversas condições que apresentam diferentes níveis de comprometimento nas áreas de comportamento social, comunicação e linguagem. Além disso, indivíduos com TEA frequentemente demonstram um conjunto limitado de interesses e atividades, realizados de maneira repetitiva e exclusiva para cada pessoa.

Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que 1% da população mundial esteja dentro do espectro autista (TEA). Diversas ações ao longo da vida podem ajudar no desenvolvimento, saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas portadoras de TEA. Ter acesso a intervenções psicossociais eficazes desde cedo pode ajudar as crianças autistas a se comunicarem melhor e a interagirem socialmente. É recomendado monitorar o desenvolvimento das crianças como parte dos cuidados de saúde de rotina para mães e bebês.

A educação é um direito de todos, sem distinção. No Brasil, a educação inclusiva tem se expandido anualmente. Segundo o Censo Escolar de 2020, 88% dos alunos com deficiência estão frequentando escolas inclusivas.

A estudante de Psicologia Micaely Patricia, que atua com crianças do ensino infantil dentro do espectro, conta a importância da educação inclusiva e afetiva. “A afetividade desempenha um papel crucial no aprendizado e desenvolvimento social das crianças no espectro autista. Relações afetivas positivas criam um ambiente seguro e receptivo para a aprendizagem, enquanto o apoio emocional ajuda a construir confiança e motivação. Isso pode facilitar a interação social e o desenvolvimento de habilidades sociais importantes. O desenvolvimento e aprendizagem estão diretamente ligados aos aspectos afetivos manifestados dentro desses processos”, diz.

Quando o autismo é diagnosticado, é importante oferecer informações úteis, serviços, encaminhamentos e apoio prático às crianças, adolescentes, adultos autistas e seus cuidadores, de acordo com suas necessidades e preferências, que mudam com o tempo.

“Embora os princípios básicos da afetividade na educação sejam os mesmos para crianças autistas e neurotípicas, as estratégias e abordagens específicas podem variar de acordo com as necessidades individuais da criança autista, e requerem uma compreensão mais profunda das características do espectro autista”, complementa Micaely.

Em Teresina, um projeto para crianças e jovens iniciado em 2018 na Universidade Federal do Piauí (Teresina), como extensão da disciplina de Educação Física adaptada, visa à autonomia funcional e motora. Conhecido como PREMAUT, o projeto já tem cinco anos de existência e desenvolve diversas atividades com crianças e adolescentes com TEA.

PREMAUT – Projeto de Extensão de Atividades Motoras para Pessoas com Autismo.
Foto:Instagram Premaut

A professora e coordenadora do projeto Mara Jordana expõe como se dá o aprendizado através da atividade física usando o lúdico, as brincadeiras e a diversão para criar esses laços afetivos. “Por meio dessas atividades, a gente vai conseguindo estreitar um vínculo, utilizando também coisas que eles gostam, alguns possuem hiperfocos, e em cima disso, desenvolvemos várias habilidades que são importantes, não só motoras, mas também emocionais”, relata.

É necessário também que haja a continuação desse ensino em casa com os pais e cuidadores, prolongando esse trabalho que é desenvolvido na escola. Micaely Patricia compartilha que ações ajudam a promover efetividade no ambiente escolar.

A afetividade desempenha um papel fundamental na formação integral de alunos com TEA, uma vez que esses indivíduos têm formas únicas de se conectar com o mundo. Por meio da afetividade, eles são capazes de estabelecer relações interpessoais com seus colegas e professores no ambiente escolar.

 “Se essa relação for positiva, esse aluno tende a ser mais participativo, a ser mais assíduo e, consequentemente, estar mais envolvido na sua aula. E se ele está mais envolvido na aula, a chance de ser mais produtivo durante a aula é muito grande. Parte desse vínculo começa a ser demonstrada na forma de carinho, abraço, um bom dia, um tchau mais caloroso. Eles manifestam esses laços de várias maneiras: alguns mais pelo toque, outros que não gostam tanto de contato físico, manifestam-se pela fala ou com algum gesto. Assim compreendemos que esses laços estão se estreitando”, afirma Mara Jordana.

Se você acha que seu filho (ou a criança pela qual você é responsável) apresenta sinais de TEA, procure um médico para confirmar o diagnóstico. Embora não tenha cura, o TEA pode ser tratado de várias formas. Com o apoio de uma equipe multidisciplinar, a criança pode desenvolver habilidades sociais e maior estabilidade emocional.

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