Crise climática: como a ação humana molda o futuro do planeta

Entenda como a industrialização e a emissão de gases poluentes contribuem para a manifestação de eventos climáticos extremos

Por Breno Campos

Ondas de calor pioram com o passar dos anos / Imagem: VladisChern / Shutterstock.com

Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o fenômeno El Niño – padrão climático natural relacionado ao aquecimento das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico – combinado ao aumento da emissão de gases do efeito estufa ocasionado pela ação humana, fará com que as temperaturas globais atinjam taxas recordes nos próximos cinco anos. O documento ainda aponta uma probabilidade de 66% da média anual de aquecimento ultrapassar os níveis pré-industriais em 1,5 °C até 2027.

A tendência mundial foi observada, também, em terras brasileiras. Durante o ano de 2023, o Brasil totalizou 65 dias de temperaturas muito altas e nove ondas de calor – aumento anormal da temperatura em um local em comparação à temperatura máxima normal nesta área -, segundo dados do Instituto Nacional de Tecnologia (Inmet).

As ondas de calor estão entre os perigos naturais mais mortais, principalmente para crianças e idosos, que são mais sensíveis à desidratação em períodos quentes. As consequências no corpo humano envolvem: exaustão e cansaço causados pela exposição ao calor, ressecamento e aquecimento da pele, e maiores riscos relacionados ao aparecimento de doenças cardíacas e respiratórias. Já os danos referentes ao meio ambiente e economia incluem desde o aumento dos focos de incêndios nas matas e florestas, até a sobrecarga dos sistemas de energia elétrica.

Embora as ondas de calor possam ser entendidas como parte de um fenômeno atmosférico causado pela ação de massas de ar quentes, elas têm se mostrado cada vez mais frequentes, intensas e duradouras. Sara Cardoso, coordenadora da Sala de Monitoramento e Previsão de Eventos Climáticos Críticos, afirma que essa maior incidência ocorre por conta das mudanças climáticas ao redor do globo. “A ocorrência do maior número de ondas de calor surge em função das mudanças climáticas. Essas mudanças climáticas provém da emissão de gases poluentes envolvidos no processo de industrialização dos últimos 60 anos. Os gases poluentes condicionam uma alta temperatura na troposfera, que está mais próxima da superfície do solo”, diz.

Mudanças climáticas e ação humana

De acordo com a definição da Organização das Nações Unidas (ONU), mudanças climáticas referem-se a transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Essas mudanças podem ser naturais e influenciadas pela variação do ciclo solar. Porém, desde o século XIX, as atividades humanas têm sido o principal motor das alterações no clima, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural).

A queima de combustíveis fósseis acaba por gerar potentes gases relacionados ao efeito estufa, como dióxido de carbono e o óxido nitroso, que cobrem o planeta e retêm o calor do Sol. A radiação solar acaba não sendo refletida pela superfície da terra e há uma retenção de calor, o que culmina no aquecimento global.

Além de aumentar o calor dos verões e desertificar áreas naturais, o aquecimento climático pode interferir em padrões meteorológicos, tornando tempestades mais fortes e chuvas mais intensas. 

Consequências e os mais afetados pelas mudanças no clima

Um relatório sobre saúde e mudanças climáticas lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2021 definiu as modificações climáticas como uma das emergências de saúde mais urgentes da atualidade. Milhões de pessoas foram e são afetadas por eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestade e inundações. Secas extremas, escassez de água, incêndios graves, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades devastadoras e declínio da biodiversidade são algumas das consequências atuais das mudanças climáticas.

Outra análise, publicada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), afirma que muitos impactos provocados pelo aquecimento global são, agora, irreversíveis, visto que os seres humanos e a natureza estão sendo exigidos além do seu nível de adaptação. 

Werton Costa, climatologista, baseado em análises dos modelos meteorológicos do NOAA e ESA, atesta que se a crescente de temperatura não for contida, ocorrerá uma repercussão profunda na dinâmica climática e atmosférica, potencializando as condições extremas e “fazendo com que a exceção torne-se regra”.

O impacto das mudanças climáticas é sentido de forma desigual entre as diferentes regiões do planeta, com algumas regiões geográficas e grupos sociais enfrentando impactos muito mais severos. Regiões costeiras, por exemplo, estão particularmente em risco. Além disso, o IPCC afirma que os extremos climáticos têm um efeito cascata que afeta a produção de alimentos e o acesso à água potável, ocorrendo principalmente na África, na Ásia, na América do Sul e Central, nas Pequenas Ilhas e no Ártico.

Ainda há a possibilidade de atenuar os danos?

Lançado em 2023, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontou um dado preocupante: as emissões de gases de efeito estufa previstas para 2030 precisam cair entre 28% a 42% para chegar a 2° C e 1,5° C – números limite propostos pelo Acordo de Paris. O cenário fica ainda mais alarmante ao se imaginar que, para existir uma chance real de estabilizar o aquecimento global nos moldes do Acordo de Paris, a redução de poluentes gerados pelo setor industrial e a queima de combustíveis fósseis precisa ser de 7,7% por ano, porém caiu apenas 0,3% por ano durante a última década.

Apesar disso, ainda há uma grande aposta: abandonar as fontes de energia poluentes. Até 2050, o uso global de carvão deve ser reduzido em 95%, e o consumo de petróleo e gás deve ser reduzido em 60% e 45%, respectivamente. Nos cenários que visam limitar o aquecimento global a 1,5°C, prevê-se que as energias renováveis fornecerão entre 70% e 85% da eletricidade até 2050. A boa notícia é que a maioria das tecnologias necessárias já está disponível e se torna cada vez mais competitiva em termos de custo em comparação com as alternativas de alto carbono. Assim, conclui-se que a humanidade já conta com opções para o combate à crise climática, mas elas precisam ser seguidas à risca para que haja uma chance real de recuperação.

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