Mulheres enfrentam desafios na cobertura esportiva e tornam-se referência na área

Stephanie Pacheco e Gil Costa são profissionais que servem de inspiração para meninas e adolescentes que desejam trabalhar no jornalismo esportivo

Por Tayla Costa

Para escolher essa profissão como sua, assim como tantas outras, é preciso ter garra e determinação para enfrentar adversidades que serão encontradas ao longo de todo caminho percorrido na carreira. Assédios são sofridos de toda parte e desqualificação pelo seu sexo são constantes. Com as mulheres, é geralmente isso que acontece quando escolhem ser jornalistas esportivas e cobrir eventos futebolísticos cercados por homens.

A cobertura jornalística é uma atividade desenvolvida pelo profissional de comunicação destinado a relatar fatos e acontecimentos   de interesse público. No entanto, fazer a cobertura de futebol, considerado o esporte mais popular do país, que é de interesse de grande parte dos brasileiros, deveria ser um exercício tranquilo para todos que se dispusessem a trabalhar na área. Deveria. Para as mulheres que fazem cobertura esportiva, os desafios vão além de atividades diárias, como fazer uma boa apuração, checar os fatos, realizar entrevistas e ter boa relação com as fontes. Elas também têm que enfrentar assédios para se manterem firmes nos locais que um dia sonharam estar.

Stephanie Pacheco, repórter esportiva, carinhosamente chamada pelos seus amigos e amigas de trabalho de Duda, é um claro exemplo dentre tantos outros de mulheres que precisaram enfrentar constrangimentos e assédios provenientes do machismo no futebol para conseguir praticar sua atividade profissional com êxito. No início, as situações são, inclusive, mais difíceis. “Você é mulher e entende de futebol?’’ e “Ô lá em casa’’ são algumas as frases que Stephanie escutou por simplesmente fazer coberturas de jogos de futebol.

Foto: Stephanie Pacheco/ Arquivo pessoal

De acordo com a repórter, a situação mais difícil vivida nessa área foi quando um jogador do River, time de futebol piauiense, mandou mensagens de cunho sexual, que a afetaram psicologicamente. “Foi um dia muito difícil, tive que voltar pra casa porque não conseguia continuar meu trabalho”, diz a repórter. A jornalista ainda ressalta: “Exigi que fosse respeitada, porque estou fazendo meu trabalho assim como os outros”.  É importante, portanto, assim como a jornalista fez, denunciar casos de assédios, para que sejam punidos e saibam que todos que estão naquele local para praticar sua profissão devem ser respeitados.

Natural de Presidente Dutra-MA, teve sua carreira no jornalismo iniciada na sua cidade natal antes mesmo de começar a graduação: devido sua boa relação com a comunicação, chegou a ter um programa esportivo na emissora local, em que fazia todo o processo, desde buscar patrocinadores a entrevistar seus convidados. Depois de quatro anos, ingressou no curso de Comunicação Social, em Teresina, e após pouco tempo começou seu estágio na empresa de onde não saiu e hoje conta com oito anos de sucesso no seu trabalho.

Esse desejo na área esportiva veio através do seu tio que é grande torcedor do São Paulo e sempre acompanhou jogos na TV de uma maneira tão forte que influenciou a pequena Duda no amor ao esporte. Atualmente, a repórter percebe que o cenário melhorou, em relação à quantidade de mulheres mas  é necessário que tenham mais, para que seja igualitário o número de mulheres e homens nesse ramo na capital. Com mais de 12 anos de profissão, pode-se considerar Stephanie Pacheco como pioneira, em Teresina, na área de reportagem esportiva, e um verdadeiro exemplo a ser seguido por meninas que desejam ingressar nesse meio.

Outra grande mulher que atua nessa área é Gil Costa, repórter e narradora esportiva. Influenciada pelo seu pai, que era jogador de futebol da seleção da sua cidade, Governador Archer-MA, Gil sempre avistava material dos jogos em casa, situação que despertou seu interesse para frequentar as partidas que aconteciam no seu município. Sua carreira como repórter começou no ano de 2007, fazendo coberturas de outras editorias, mas pelo seu bom desempenho passou a fazer coberturas esportivas.

Foto: Gil Costa/ Arquivo pessoal

Mas sua atuação na narração é recente: foi só em 2020 que Gil começou sua atuação em uma rádio a convite de um amigo que trabalhava com isso. Sua primeira transmissão desse tipo foi um verdadeiro desafio superado, visto que foi uma partida de tênis, esporte que ela não tinha o costume de acompanhar, além disso, ela também não estava escalada, mas por problemas técnicos teve que assumir mais de três horas de narração pelo rádio. E apesar de ter sido de surpresa, foi um grande sucesso e Gil foi muito elogiada pelo seu chefe na época.

Após isso, ela narrava partidas de não só de futebol, como de voleibol também. No entanto, assim como Stephanie, Gil sofreu represálias de diversas partes, desde torcedores proferindo ofensas e xingamentos pelo seu trabalho como narradora a outros profissionais homens que duvidavam da sua capacidade e do seu intelecto: “A todo tempo tive que provar que entendia de futebol, vôlei e Fórmula 1, esportes que eu sou muito apaixonada’’, relata a narradora.

Gil Costa, entretanto, revela não se abalar com essas adversidades que a acompanham e a outras mulheres, pelo contrário: “Não me deixei abater, na verdade foi fator determinante para eu fazer transmissões cada dia melhor” .Giovana Capucim e Silva, mestra em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do assunto, afirma em entrevista concedida ao Sesc São Paulo que o futebol, espaço construído como masculino há décadas, aos poucos vem sendo rompido. Giovana ainda ressalta a importância de mais mulheres na cobertura esportiva: “Suas presenças são fundamentais e instigam a presença de mais mulheres daqui para o futuro”, diz a pesquisadora. Stephanie e Gil são alguns exemplos entre tantos, de mulheres que superaram muitos desafios na área esportiva para se sagrarem grandes profissionais e grandes referências. Elas também servem de espelho para que meninas e jovens possam se espelhar e construir sua própria história.


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