Inclusão de um 13º signo no horóscopo?

Por Guxtaw Alves

Dentre os vários conhecimentos que a humanidade desenvolveu no passado, talvez o mais emblemático esteja associado à observação dos astros. Povos de origens distintas em pontos diferentes do globo criaram suas versões para explicar as constelações. Porém, a vertente que influenciou a maior parte do mundo foi a dos Babilônicos, povo de origem suméria que reinou século XVIII ao VI a.C na região da Mesopotâmia (atual sul do Iraque). Foram eles que desenvolveram aquilo que chamamos atualmente de signos do zodíaco. 

Quando falamos em zodíaco, a primeira coisa que nos vem à mente são os horóscopos das revistas e das páginas de alguns jornais impressos. Há inclusive, nos dias de hoje, grupos religiosos contrários a esse tipo de conhecimento que lhes atribuem valores satânicos.  

O zodíaco consiste no grupo de apenas 12 dentre as 88 constelações reconhecidas pela União Astronômica Internacional. Essas doze ganharam mais destaque por estarem no trajeto solar ao longo de um ano ao qual chamamos de eclíptica. Do nosso ponto de vista aqui da Terra, se pudéssemos observar as estrelas durante o dia, veríamos o sol cobrir uma determinada constelação à medida que avançamos no nosso movimento de translação. Tal qual a disposição dos números em um relógio, esses corpos celestes ocupam uma certa região à qual chamamos de casas. São as casas zodiacais. O período que o sol passava na área de uma casa zodiacal era de basicamente um mês. 

Imagem: brasilescola.oul

DESLOCAMENTO ASTRAL  

Em termos levantados pela astronomia, na época em que o modelo de doze casas foi instituído pelos Babilônicos, há cerca de 2.500 anos, as estrelas mantinham posições aparentemente fixas no universo. Mas agora, a ciência contemporânea nos ensina que até mesmo as estrelas se movem de lugar, porém esses deslocamentos levam milênios para serem consideráveis do nosso ponto de vista. Prova disso foi o deslocamento da constelação de Serpentário (também chamada de Ofiúco/Ophiucus) para a área celeste atravessada pelo trajeto solar. Ofiúco não foi incluído no zodíaco durante a antiguidade porque naquela época, a constelação se encontrava distante da eclíptica. Ou seja, agora o Sol em seu movimento aparente anual ao redor da Terra atravessa 13 constelações zodiacais: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Serpentário, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.

O deslocamento das estrelas também implicou no tempo que o sol dura numa casa zodiacal. Como exemplo, o sol agora leva 44 dias para percorrer o perímetro da casa de virgem e apenas sete para passar pela casa de escorpião.

Calendário solar adotado pela comunidade astronômica. Segue um sistema de datas diferente do que é usado pela comunidade astrológica.

Segundo o professor Franklin Rinaldo, que é Mestre em Física pela PUC de Minas Gerais, as constelações já tinham nomes pré-estabelecidos, porém não havia um consenso sobre onde uma terminava e outra começava. “Até o início do século XX, a delimitação das constelações não respeitavam um critério padrão. O que havia eram cartas celestes com limites irregulares e também arbitrárias. Havia também mapas e globos celestes com configurações esteticamente elaboradas, mas sem um rigor científico”. Ainda segundo ele, as coisas só ficaram realmente organizadas após a criação da União Astronômica Internacional que, durante a segunda Assembleia Geral realizada em Cambridge (Reino Unido) no ano de 1925, restabeleceu os limites das 88 constelações. Foi onde se observou que o sol estava atravessando a constelação de ofiúco e dessa maneira, a comunidade astronômica passou a aceitar uma eclíptica de 13 casas zodiacais.

Professor Franklin Rinaldo – Mestre em Física pela PUC de Minas Gerais
Foto: Arquivo pessoal

Já para a comunidade esotérica, a convenção de apenas 12 signos é algo imutável. É isso que acredita o astrólogo pernambucano João Eduardo, conhecido como Amadoráculo:  “Se eu acho que o signo de Ofiúco deve ser colocado entre as constelações do zodíaco, eu acho que não. Ao mesmo tempo, como as constelações ao longo da história foram sobrepostas, pra astrologia é possível verificar se as estrelas da constelação de Ofiúco/serpentário estão presentes no mapa de alguém. E quando elas estão, elas dizem alguma coisa astrologicamente”. Ou seja, na concepção astrológica, mesmo que Ofiúco não seja estabelecido como um dos chamados signos solares, ele ainda pode servir como base para estudos sobre a vida de uma pessoa que tenha nascido no período que o sol sobrepõe esse corpo celeste. 

Ainda segundo o especialista esotérico, o fato de uma constelação não ser considerada um signo solar não impede sua influência sobre a vida de uma pessoa. “Pela astrologia, a gente tem técnica pra ver se quando a pessoa nasceu, existiam estrelas da constelação de Ofiúco/Serpentário que estão relevantes no mapa dela. Tem várias técnicas de ver as estrelas das constelações não só do zodíaco, mas de outras como Cão menor, Cão maior, Ursa maior, Ofiúco, Perseu, Baleia”.

O astrólogo João Eduardo (Amadoráculo) ao lado dos mapas atrais que usa em seus estudos.
Foto: Acervo pessoal

Ainda para o professor Franklin Rinaldo, a resistência da comunidade esotérica em conceber uma 13ª casa zodiacal se deve ao fato de evitar uma confusão com relação à divisão dos meses: “Na astrologia, só se utiliza doze signos porque correspondem aos doze meses do ano. Quem nasce em determinado intervalo tem um determinado signo. Ou seja, para os astrólogos, o sol só corta doze. Mas pra nós astrônomos, o sol corta treze”.

O HORÓSCOPO É GREGO? 

Apesar do conhecimento ter sido criado pelos babilônicos, quem recebeu o mérito foram os gregos. A própria palavra zodíaco vem do termo em grego “ζωδιακός κύκλος” [zôodiakós küklos], que significa “círculo de animais”. Isso porque as 12 figuras estavam alinhadas na faixa imaginária, ou cinturão celeste, do firmamento celeste que marca a trajetória do Sol. Os Gregos absorveram muitos conhecimentos de povos adjacentes e um deles foram os babilônicos. Entretanto, foram os Gregos que ampliaram as denominações das demais constelações e ainda deram interpretações mitológicas em cima de cada uma delas. A cartada final para a astrologia ser atribuída à Grécia antiga foi quando, no século II, o cientista Cláudio Ptolomeu escreveu um tratado matemático e astronômico chamado Almagesto. A obra adotou o modelo geocêntrico para o sistema solar e o catálogo estelar.

A constelação de Ofiúco, também chamada de Serpentário, representa na mitologia grega o deus da medicina chamado Asclépio (Esculápio na versão romana). Na figura formada pelas estrelas, ele era visto segurando uma Serpente a qual fica dividida em duas partes no céu, Serpentis Caput (cabeça da serpente) e Serpentis Cauda (cauda da serpente). Esse enorme conjunto é considerado uma única constelação. No imaginário dos antigos povos da Grécia, Asclépio era representado como um homem maduro, vestido de uma túnica que lhe descobre o ombro direito, e apoiado a um cajado onde se enrola uma serpente. É exatamente ela que garante o outro nome da constelação que é Serpentário, proveniente do latim Serpentarium (condutor da serpente).

À esquerda, representação da constelação de Ofiúco/Serpentário. À direita, representação lúdica do personagem mitológico que dá nome à constelação.

Apesar de verem os astros de modos completamente diferentes, astrônomos e astrólogos se baseiam nas mesmas nomenclaturas e bases mitológicas das constelações. Astrólogos estão convictos em manter um horóscopo com apenas 12 signos por causa dos dozes meses do ano. Já os astrônomos seguem o parâmetro das treze casas zodiacais, incluindo Ofiúco por se apoiarem em artigos científicos. Sejam 12 ou 13, o importante é saber que cada logística é aceitável no seu devido espaço de conhecimento e, dessa forma, mantém-se o respeito mútuo entre os dois lados.

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