por Cecilia Marques
A partir de 1960, com os avanços tecnológicos, os alimentos naturais sofreram modificações. Para aumentar a produção agrícola, iniciou-se a utilização de fertilizantes, agrotóxicos e da mecanização da produção; com isso, a produção familiar e a sociobiodiversidade sofreram um grande impacto. Dessa forma, surgiu o chamado agronegócio, um conjunto de atividades econômicas que derivam ou estão conectadas à produção agrícola e seu comércio e tem causado reflexos negativos no meio ambiente, destruindo grande parte das florestas e abalando o bioma local.
A agroecologia nasceu para propor mudanças sociais e ambientais ao modelo imposto pelo agronegócio, em uma clara revolução no modo de consumir alimentos. Abrangendo questões sociais, políticas, culturais e ambientais, e tornando-se uma forma mais segura e saudável de consumir tais alimentos em longo prazo. De acordo com a pesquisa feira pela “Organis“ , entre as principais razões de compra, 84% daqueles que consomem apontam o benefício percebido para a saúde.

Além de ser saudável para as pessoas e para o meio ambiente, a prática colabora com a renda de pequenos produtores, garantindo a sobrevivência e autonomia de populações tradicionais que possuem valiosos conhecimentos sobre esses sistemas alimentares, em detrimento do sistema oposto, o qual beneficia grandes produtores e fazendeiros.
Uma proposta que incentiva esse modelo é a Feira de Base Agroecológica-Cultural da UFPI, um projeto de extensão da Universidade Federal do Piauí, no qual ocorre venda de produtos oriundos da agricultura familiar sustentável. No período antecedente à pandemia, a feira realizava edições dentro do campus universitário, trazendo, além das vendas, rodas de conversas de diversas temáticas e assuntos, ecoando assim os princípios da agroecologia.
De acordo com Valéria Silva, ex-professora universitária e idealizadora da Feira UFPI, o que a motivou a criar o projeto foi uma mistura de desejo e necessidade de fazer circular alimentos produzidos na própria capital. “Quando o projeto foi criado, poucas pessoas possuíam interesse em consumir produtos agroecológicos e muito menos em ouvir sobre a causa. No entanto, é significativa a mudança desse cenário atualmente, uma vez que as pessoas procuram e se mostram atraídas pelo assunto, bem como constatam os efeitos positivos para a saúde e para o planeta”, analisa a responsável.

Nesse sentido, o estudante de engenharia civil Natanael Basílio (22) destaca que, durante a pandemia, enxergou a necessidade de se alimentar melhor. Apesar de comprar frutas e verduras no mercado com frequência, Natanael sempre teve noção da quantidade de agrotóxicos presentes nos alimentos. Hoje afirma que possui a ciência de que é a mesma coisa de ingerir veneno e, desde que começou a consumir hortaliças provenientes de plantações locais, sentiu uma enorme diferença na própria saúde.
No comércio de grandes produtores, a mercadoria chega aos supermercados e é vendida em prateleiras, sem nenhuma ligação entre produtores e consumidores. A lógica é totalmente diferente na produção local, onde a compra é feita diretamente com o feitor, ocorrendo uma troca de diálogos e experiências. “Até mesmo as sementes são da própria comunidade e, caso haja a necessidade de compra, sempre procuramos produtos sem agentes químicos. Dentro do assentamento, todo o processo, desde a produção até a comercialização, é feito por mulheres. Atualmente as vendas melhoraram bastante”, celebra Karla Fernandes, produtora do assentamento Vale da Esperança.

Portanto,quando alguém consome produtos provenientes da agroecologia, está alimentando uma cadeia de relações, não apenas a do consumo de alimentos como também de valores de colaboração, partilha e solidariedade. Não se trata somente de ingerir produtos livres de agrotóxicos, mas de comprar produtos sem exploração e que geram respeito para as comunidades.