Com os cinemas fechados, o streaming se torna o porto seguro dos fãs de audiovisual.
Por Glória Santana e Rebeca Maria
A típica batalha que vemos nos filmes, como a dos Vingadores contra Thanos em “Vingadores: Ultimato”, ou como a de Godzilla e Kong no filme “Godzilla vs Kong”, pode ser comparada a que acontece entre as salas de cinema e os streamings. Uma guerra para definir o que seus espectadores assistirão em seus cinemas locais. Sejam eles nas grandes telas, ou mesmo na pequena tela do celular.

Afinal, essa rivalidade é realmente necessária? “Acho perigoso colocar os meios como rivais sem considerá-los enquanto uma convivência harmônica. Além disso, é um pensamento muito voltado para a ideia de ‘midiacídio’, de que uma mídia vai rivalizar ou apagar outra”, destaca Victor Lages, mestre em Comunicação que atua na área de Cinema.
O Streaming
“A ascensão das plataformas de streaming é o caminho natural de exibição do meio cinematográfico, como foram as videolocadoras” – Victor Lages
Durante a pandemia de Covid-19, os aplicativos de streaming se tornaram o porto seguro dos fãs de audiovisual. Isso porque as salas de cinemas estavam fechadas devido ao isolamento social. De acordo com dados da pesquisa realizada pela Finder, plataforma dedicada a finanças pessoais, o Brasil se tornou o segundo país com maior consumo de aplicativos de filmes digitais. Cerca de 64,58% da população brasileira possui pelo menos uma assinatura em serviços de fluxo de mídia digital.
Uma das vantagens do modo de assistir filmes online é a comodidade que oferece. “Você fica em casa, pode chamar outras pessoas sem precisar pagar caro igual no cinema, pode ficar do jeito que quiser, comer e beber o que quiser, pausar, além de poder assistir a qualquer hora em qualquer dia”, destaca a Representante de Atendimento Ana Ferreira.
A Netflix é o serviço mais utilizado pelos brasileiros segundo a pesquisa da Finder, com 52,69% de gosto popular. A plataforma foi uma das primeiras a produzir atrações próprias e exclusivas. Esses dados não são uma coincidência, pois, o serviço de streaming vem tendo grandes investimentos em filmes e séries. Além de ser um dos grandes estúdios que lutam por espaço nas principais premiações e festivais do mundo cinematográfico.

Em 2015 a Netflix decidiu estrear um novo filme simultaneamente nas salas de cinemas e na internet exclusivamente para os assinantes. o que não foi muito aceito pelos festivais. “Quando ‘Beasts of no Nation’, o primeiro feito produzido pela Netflix, foi lançado, o Oscar não aceitou a sua candidatura na premiação. No ano seguinte, o Festival de Cannes também barrou filmes”, pontua Victor Lages.
O Cinema
O cinema existe desde 1895 e já passou por diversas crises, mas em 2020 com as salas fechadas, ficou inviável lançar filmes. Grandes produções como “Mulher-Maravilha 1984”, que seria aposta nas bilheterias, tiveram que ser adiadas. O que prejudicou bastante, visto que o sucesso desses filmes é o que sustenta parte da indústria do entretenimento.
No entanto, aos poucos, o cinema foi retomando suas atividades. Em outubro de 2021, filmes como “Duna”, “Venom: Tempo de Carnificina” e “007: Sem Tempo para Morrer”, mostraram uma ótima recuperação da indústria cinematográfica. A empresa Gower Street, responsável por analisar o mercado cinematográfico, mudou suas projeções para as arrecadações de bilheteria global desse ano – de US$ 20,2 bilhões para US$ 21,6 bilhões. Caso seja alcançada, o número representa um aumento de 80% em relação à arrecadação do ano passado, que foi de US$ 12,4 bilhões.
A experiência que as salas de cinema oferecem para o público é única. Para o estudante Jackson Paes Landim de 23 anos, “estar rodeado por pessoas que tiraram um tempo exclusivamente para aquilo, sem celulares, sem conversas, e em um ambiente que favorece muito para uma experiência de imersão no filme é uma experiência que você só vai ter em uma sala de cinema, e aquilo te marca muito”.

De acordo com o Realizador Audiovisual, Thiago Furtado, “O cinema nunca vai deixar de ter sua magia e seu espaço. O streaming serve como um complemento e opção pra ver um filme… não tem outro lugar que faça a gente se sentir imerso no filme quanto o cinema”.
Estratégias de bom convívio entre o Cinema e Streaming
Na pandemia de covid-19 a indústria do entretenimento se viu obrigada a bolar estratégias de sobrevivência. Com os cinemas fechados e o streaming caindo no gosto do público surge um questionamento: vale a pena lançar grandes produções no meio digital, ou deve-se esperar as salas de cinema reabrirem? A Disney por sua vez decidiu, inicialmente, lançar “Mulan” na plataforma, o que não teve muito sucesso. Enquanto estudava outro meio de lançamento foi adiando outras produções.
Depois de tanta demora, decide lançar “Viúva Negra” no cinema e no streaming simultaneamente. O que não agradou a atriz principal da trama, Scarlett Johansson, que decidiu processar a Disney alegando quebra de contrato, já que a decisão do estúdio afetou nos seus ganhos, uma vez que a porcentagem recebida pela estrela depende diretamente da arrecadação das bilheterias.

Dentro desse contexto uma nova estratégia surge para favorecer os dois lados da moeda (Streaming e Cinema). A Disney decidiu que suas produções irão para sua plataforma digital 45 dias após o lançamento no cinema. Já a HBO optou por um prazo menor de 35 dias após serem exibidos nas telonas. “As plataformas de streaming estão ainda em vantagem por serem um meio inteiramente digitais por diminuírem o tempo de exibição entre o lançamento de cinema e o consumo em casa. Na época das videolocadoras, o tempo era de mais de 90 dias. Agora, o tempo é bem menor”, acrescenta Victor Lages.
A verdade é que cinema é arte. Não importa o local que vai ser exibida. Não se pode estabelecer rivalidade entre os meios de exposição. Tudo que é novo assusta. A realidade é que as pessoas são atraídas por histórias e sempre vai ter público. “quando a rádio surgiu, acreditavam que os jornais impressos iam sumir e eles seguem existindo; quando a tevê nasceu, achavam que a rádio, as salas de cinema e os jornais impressos iam desaparecer e todos convivem ainda hoje. O importante é encontrar o ponto de convergência entre eles. Os streamings surgiram como um caminho paralelo dentro do mercado audiovisual”, conclui Victor Lages.