Por Ramon Campelo e Thálef Santos
No dia 14 de Julho deste ano o Ministério da Educação divulgou publicamente o Novo Ensino Médio, já formulado em lei para ser implementado gradualmente até 2022. A adaptação das escolas do Serviço Social da Indústria (SESI) foi iniciada em 2018 em 22 estados, ofertando itinerários complementares com a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e formando a relação entre educação e mercado de trabalho.
Em 2020 foi formada uma turma experimental do Novo Ensino Médio pelo SESI em colaboração com o SENAI, onde 198 jovens das classes C e D chegaram ao mercado de trabalho já com diploma técnico.
Neste novo modelo de aprendizado, os alunos poderão desenvolver o conhecimento com enfoque na profissionalização e formação técnica. Ao finalizar o ensino médio, o aluno receberá o certificado de ensino médio regular e também do curso técnico ou cursos profissionalizantes escolhidos por ele mesmo.
No lugar das matérias, o novo currículo será dividido em quatro áreas de conhecimento e mais uma área de formação técnica e profissional. As áreas de conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) irão compor até 1.800 horas da carga horária, enquanto 1.200 horas ficarão flexíveis e reservadas à área de formação técnica e profissionalizante.
O coordenador pedagógico do CETI Modestina Bezerra da Silva, Leonardo Lustosa Batista, fala sobre a implementação do modelo no Instituto em que trabalha:
“A escola em que trabalho tem feito capacitações para elucidar esse novo contexto, porém ainda restam muitos questionamentos acerca do assunto. […] Sou coordenador da Educação para Jovens e Adultos (EJA), que não entra nessa mudança, mas futuramente serei instrutor do Novo Ensino Médio, por isso tenho estudado. Lembrando que as capacitações, inicialmente, têm se estendido somente aos professores e coordenadores, mas a escola inteira terá que participar. ”
O que vai mudar?
As principais mudanças são o aumento da carga horária de 2.400 para 3.000 horas, a nova base comum curricular e a escolha dos itinerários formativos pelos estudantes. O novo modelo será integrado às escolas no próximo ano e estima-se que até 2024 esteja em todas as turmas do país. Cada escola deverá oferecer pelo menos uma opção complementar das cinco áreas curriculares para a formação dos alunos, que escolherão qual cursar de acordo com as áreas de seu interesse e projetos de vida/carreira.
A proposta surgiu com a estagnação dos índices de desempenho dos estudantes (apresentados no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020). Além disso, entre os ensinos básicos o ensino médio é o que tem as maiores taxas de reprovação, estagnação e atraso de conclusão dos alunos.

Quanto à organização e capacitação da estrutura escolar e pedagógica restam dúvidas entre os profissionais. O professor, Vítor Santos de Souza da Seduc-PI, afirma:
“Sim, houve a compra de vários materiais didáticos para o novo ensino médio, porém, as escolas não têm estruturas para esse novo modelo! ”
Leonardo Lustosa, o coordenador pedagógico do CETI Modestina Bezerra também alega:
“A vantagem desse novo modelo é a possibilidade de se aprofundar mais na área de estudo de sua preferência podendo até influenciar no seu desempenho na profissão […] A desvantagem é que talvez, nesse início, podemos não ter estrutura metodológica suficiente para a implementação mais consistente. ”
Quais vantagens o Novo Ensino Médio traz?
A principal vantagem é de os estudantes poderem aprofundar os conhecimentos específicos que os apoiarão na futura carreira profissional escolhida. Com a nova base de ensino, os alunos também aprendem sobre atividades semelhantes às do mercado de trabalho, como cooperação, criatividade, solução de problemas, desenvolvimentos tecnológico e de ideias, entre outros.
Para os professores um novo e abrangente espaço de contratação se abre com várias possibilidades de disciplinas a serem ministradas devido a formação técnica e profissionalizante. A professora Francisca Kelly Sousa da Costa, do CETI Modestina Bezerra, demonstra preocupação sobre a contratação nas escolas e a exclusão de algumas disciplinas. O professor Vítor Santos de Souza da Seduc-PI reafirma sua preocupação quanto à adequação do novo modelo nas escolas brasileiras:
“Os alunos irão ter menor gama de conteúdos em todas as disciplinas, […] não acredito que esse novo ensino médio vá mudar a realidade dos estudantes do Brasil! Acredito que deveria ter capacitação de professores voltadas para aplicação de metodologias ativas e do ensino por investigação! “

Outra novidade é o Enem Seriado, uma variação do Enem possível para os alunos do Novo Ensino Médio. Com conteúdo adaptado à nova base curricular, as provas serão aplicadas em três fases. Diferente do Enem tradicional aplicado no último ano, o Enem Seriado será aplicado nos 3 últimos anos do ensino básico.