Repórter: Karoll Oliveira
Acordar cedo, pegar ônibus lotado, trabalhar, não ter tempo para comer, ir para universidade, ter atividades acumuladas, voltar para casa, às vezes estudar e dormir tarde. Essa é a rotina de muitos alunos de ensino superior que, além de estudar, precisam trabalhar. Tal realidade aliada aos problemas de natureza social, familiar e pessoal afeta a saúde mental dos estudantes, que se sentem pressionados diante de tanta atividade.

É o que acontece com as estudantes Júlia Fernanda, Silvia Torres e tantas outras e outros que têm a jornada diária muito atarefada. Júlia precisa trabalhar para pagar a faculdade e relata como é difícil conciliar as duas coisas. Ela acorda 5h20 da manhã para ir à faculdade, e chega por volta das 22h30 em casa depois do trabalho.
“Eu chego muito cansada, só banho, como e durmo. Em semana de prova, chego a ficar até 1h da manhã. Mas já teve dias que eu quis desistir de tudo. Tenho tantas coisas para fazer, que não consigo fazer nada. Até tento fingir que não está acontecendo, mas elas estão acontecendo. E é uma situação horrível, que você chega a não querer existir”, desabafa Júlia.
O sentimento é o mesmo para Silvia, que estagia na universidade e, além do trabalho e estudo, tem atividades que preenchem o turno da noite. Ela diz que a rotina afeta seu estado emocional e mental. “As coisas se acumulam e me sinto inútil. Choro, não consigo focar, mas mostro que está tudo bem. E isso acontece porque a sociedade pressiona que você seja bem sucedida no trabalho, nos estudos, na vida social, coisa que a gente não consegue fazer, não da forma que as pessoas querem”, enfatiza a estudante.
O psicólogo Carlos Eduardo, que trabalha com apoio psicológico para estudantes do ensino superior, explica que a rotina pode ser um fator desencadeador para problemas na mente de estudantes, mas que não é o único, ele se alia a fatores externos e sociais. “Quando o aluno entra na universidade, ele entra em contato com um novo contexto, novas questões sociais e isso mexe muito com ele, faz muitas vezes com que se sinta perdido. Isso aliado a tantos outros fatores, como a pressão da rotina pode interferir na saúde mental da pessoa”, afirma ao Luneta.

Ele destaca ainda que tais problemas vão muito além da depressão, doença comumente associada a saúde mental. A pessoa pode desenvolver várias outras problemáticas. “Transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, transtorno de personalidade, quadros psicóticos, como esquizofrenia, e outras questões que envolvem a dificuldade no âmbito da aprendizagem fazem parte do desequilíbrio que a saúde mental das pessoas está vulnerável. A temática é bem abrangente”, frisa ele.
Dados alarmantes
Alguns desses problemas, como a depressão e o transtorno de ansiedade são muito frequentes no Brasil. Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (2015), com
relação a depressão, é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e, com relação a ansiedade, o Brasil é recordista mundial.

Esses dados configuram-se como um alerta, visto que em casos mais extremos esses transtornos, misturados com a rotina e os problemas sociais e pessoais do aluno, podem leva-lo a ter pensamentos suicidas. Hoje, o suicídio é um problema de saúde pública que mata pelo menos um brasileiro a cada 45 minutos, mais do que a Aids e muitos tipos de câncer, porém que pode ser prevenido em 9 de cada 10 casos, de acordo com os dados do Ministério da Saúde.
Como ajudar?
O psicólogo explica que acompanhamento especializado é de extrema importância, mas que a saúde mental não se promove apenas dessa forma. Os estudantes universitários sentem a pressão da rotina, mas isso se agrava com os problemas sociais. Segundo o profissional, vivemos em uma sociedade que funciona em uma lógica heteronormativa, machista, e se a pessoa tem marcas identitárias que vinculam ela a um determinado grupo étnico, orientação sexual ou grupo econômico, ela é mais vulnerável ao adoecimento psíquico.
“É preciso que as universidades e a sociedade de modo geral sejam mais inclusivas, abertas ao diálogo, mais acolhedoras e mais respeitosas a diversidade. A promoção da saúde mental envolve a coletividade, a mobilização por uma sociedade mais justa, igualitária, sensível e mais humana. Não se trata apenas de uma tomada de decisão individual, boa parte das problemáticas relacionadas à saúde mental, está ligada a problemas macrossociais”, defende ele.
A produção jornalística que você acaba de ler/ouvir faz parte do trabalho desenvolvido pelos estudantes da disciplina de Webjornalismo – 2018.1, administrada pela professora Dra. Juliana Teixeira.
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